O dia que eu visitei o Cafe Zuni em São Francisco
- andggomes

- 19 de abr. de 2022
- 5 min de leitura
Atualizado: 20 de nov. de 2022
Devo confessar que nunca tinha ouvido falar dele (e olha que o moço está na praça desde 1979! E tem o coração de muuuita gente por aqui), até assistir um episódio no canal da Paola Carosella no YouTube falando que foi nessa maravilhosa esquina da Market Street em SF (não tão glamurosa nos dias hoje, convenhamos), quando estagiou com a chef Judy Rodgers, que ela aprendeu os incríveis segredos para a melhor Caesar Salad – um clássico do Zuni. (Busca no canal do YouTube da Paola: Salada Caesar do Zuni Cafe!)
Pois bem. Aqui estou eu, ansiosa pela minha saladinha

O fato de existir tantas receitas simples, comida de dia a dia feita de uma forma mais ‘elaborada’ me anima, e me intriga – ate de uma certa forma a me deixar angustiada – tem tanta coisa boa por ai mundo à fora (veja bem o nível que chegamos Carla: uma salada – sa-la-da! Deu pra ser famosa) – que, faltam vidas pra provar todas as singelas, simples e muito elaboravas criações culinárias existentes.
Enfim, saindo da ansiedade extremista de querer provar tudo pra já e voltando ao Zuni Café:
Pra comer indoor apenas os felizes humanos quem tem a terceira dose da vacina (lembre-se, estamos no primeiro mundo e por aqui as pessoas já tem acesso às várias doses já faz um tempinho – mas, lembre-se again: é um mundo livre, então alguns ainda escolhem não tomar a vacina. E tá ok pra eles, exceto pelo fato de que não podem curtir a vibe do ambiente interno do Zuni – pobre almas!).
Então, cada vacinado no seu galho foi a forma que alguns restaurantes acharam pra se proteger e proteger os demais. Assim como ‘meu corpo, minhas regras’ – a máxima vale para meu restaurante minhas regras (ok, em tese, pois apesar de ser um país livre de primeiro mundo, ainda estamos na Democrata CA, onde o governo mete o bedelho onde ele bem entender também). Mas para fins didáticos e facilitadores do meu texto, pra entrar aqui no Zuni só vacinado E com a terceira dose! Quem avisa amigo é, então depois não me venha com xurumelas.
Mas e o que faz esse tal Zuni ser tão conhecido e tão bem quisto pelos São Franciscanenses e turistas em geral?
Bom, em primeiro lugar o que chama a atenção é o ambiente que conta a sua história.
Um ambiente muito aconchegante, não lembra nada a crazy atmosfera da Market Street ali fora.
De onde estou consigo ver o forno a lenha enorme que fica no meio do salão principal e de onde saem os deliciosos – e mundialmente famosos – frangos assados (chicken roasted on the brick over). Vejo parte da cozinha também, a qual é aberta para o salão e onde uma pequena orquestra de cozinheiros, auxiliares e garçons flutuam de uma forma enlouquecidamente calma preparando os pratos.

E por fim, a minha vista da janela é poética, daquelas que a gente tira 100 fotos iguais pra garantir uma boa, e antes de ir embora faz mais um book da vista porque o prevenido morreu de velho né.

Ah, eu cheguei a mencionar o piano de cauda que fica no salão em frente ao maravilhoso-queria-um-bar-desses-na-minha-casa bar? Todo clean, vidro e dourado – eu diria que uns 8 a 10 metros de comprimento (talvez mais, talvez menos, desculpa a falta de noção de espaço) – sendo que as garrafas e copos e etc ficam na parede que são janelas para a Market Street (pensa na luz que entra)… lindo, lindo!
Outro ponto de destaque do Zuni é a historia da chef Judy Rodgers.
Judy foi uma voz bem alta na culinária que preza o respeito ao ingrediente, o ingrediente como o grande ‘wow’ do prato, maior que técnicas culinárias e maior que o chef. Judy era ‘discípula’ de Alice Waters – a dona do Chez Panisse – sim, esse mesmo que você está pensando! O famosérrimo restaurante em Berkeley que deu origem ao movimento farm-to-table nos Estados Unidos e à California Cuisine, onde as receitas são focadas em ingredientes locais, sustentáveis e com foco em produtos sazonais.
Sério, quer mais California vibes que isso??? E o Chez Panisse também foi onde a chef Sabin Nosrat trabalhou. E se você está pensando: “em quem eu deveria estar pensando? Quem é essa gente?”, tranquilo! já vai abrindo o Netflix e pesquisa pelo documentário Sal, Gordura, Ácido e Calor.
Ah, e prepare-se psicologicamente pra ficar com fome e/ou vontade de cozinhar.
Enfim, com esse time de nomes (e influências) de peso: Alice Waters, Sabin Nosrat, Paola Carosella e Judy Rodgers era de se esperar coisas boas saindo das panelas.
Mas ninguém sai de casa pra ir no restaurante olhar as paredes e pagar pau pra chef né? Afinal, muito mais que Cuisine a comida tem que ser Gostuisine! Então vamos ao que interessa:
COMIDA!
Ou melhor, a capacidade intangível de o restaurante encher o 'panduio' de seus clientes e vê-los extremamente felizes e realizados ao pagar a tangível conta ao final, e mais: prometendo a si mesmos que voltarão muito em breve.
De fato, o cardápio nao tem nenhum pulo do gato mirabolante. O legal aqui é que os menus são inspirados por ingredientes da estação. Ah detalhe: tudo é orgânico – segundo o website do negócio. Assim, esses produtos sazonais orgânicos são incorporados às técnicas da cozinha italiana e francesa resultando em receitas simples e espetacularmente saborosas.
Dessa forma, o menu aqui é uma página: algumas opções de entrada, principal e sobremesa. Sim, simples, farm-to-table, lembra? Cardápio de 37 páginas só na Cheesecake Factory três quadras adiante.
Agora voltando ao meu momento feliz:
Quando a atendente chegou eu abri meu coração: falei que não estava com muita fome (o que era bem verdade. Eu havia comido um pastel há uma hora atrás – desculpa, estou me iniciando na vida de analista culinária hehehe) e que estava exclusiva e profissionalmente visitando o Zuni para provar THE Caesar Salad, foi quando a moça abriu um sorrisão (ela sorriu com os olhos, afinal ela estava usando sua máscara) e disse: yes! I got you.
Como se não bastasse a minha cara de pau de falar que nem fome eu tinha, ainda pedi uma polentinha mole com muito mascarpone, pimenta preta e parmiggiano regiano (o real oficial), afinal de contas, eu estava sem fome!
E, claro, uma taça de Lê Ragnai “Rosso di Motalcino” 2017, uva Sangiovese da Toscana pra acompanhar a festa. Meu nonno sempre disse que uma taça por dia no almoço trazia saúde, então honrarei as raízes: Salute!
Meu veredicto: Devo confessar que eu gostei, e muito, da salada! As folhas eram croc croc, todas banhadas nada singelamente no molho que era ácido na medida certa e como eu não estava esperando. Eu amei! E quando a polenta chegou não pensei dois segundos – me joguei, sem fazer prisioneiros. Bah! Polenta super cremosa, mais o cremoso do mascarpone e o sabor forte do parmiggiano me deixaram com uma certa dificuldade de parar de comer.
E como se não bastasse minha alegria brincando de Andressa Tucci em San Francisco, Gilbert Pilgram (chef-owner) estava almoçando na mesa ali na minha frente. Não tinha como ele e sua blood Mary não se destacarem no ambiente. Achei um toque bem poético pra minha experiência.
A sobremesa e o drink ficaram pra uma próxima.
Sim, quero muito voltar pra provar o frango assado no forno a lenha e as batatas fritas no estilo shoestring (fina e comprida, lembrando um cadarço de sapato). Da próxima vez não vou comer pastel antes e vou levar um parceiro pro crime, assim a culpa* (e a conta**) ficam menores!
*culpa de comer sozinha comida boa sem poder dividir com ninguém. Culpa e comer, jamais!
Até a próxima! E eu espero que essa crônica tenho pelo menos te dado uma fome.
Zuni Cafe: 1658 Market Street, San Francisco
























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