Cartas de Viagem - Bruxelas
- andggomes

- 8 de jun.
- 4 min de leitura
Olho para o pacote que estou segurando e seleciono uma, seguro entre os dedos indicador e polegar com todo o cuidado e a observo. Tento absorver tudo que consigo antes de dar a ela seu destino final.
Esse é o nosso momento.
Um momento especial que tanto esperei e que faço questão de saborear com calma - é uma introdução. A primeira vez de algo simples, comum, mas que nessas circunstâncias acaba se transformando em único.
Depois de um tempo de observação faço o movimento final. Passo ela pelo molho que inunda o pacote com o mesmo vigor e vontade de Magritte ao pintar seu icônico cachimbo.
Paro por um segundo e confirmo que a quantidade de molho está perfeitamente balanceada e levo ela em direção ao meu rosto e dou uma mordida…
A crocância se apresenta primeiro, a macieza por dentro é sentida depois - e o sabor…ah, o sabor! É incomparável - uma novidade emocionante para as minhas curiosas papilas gustativas.
Era a minha primeira vez provando French Fries. A batata frita tradicional - THE real deal.

As tradicionais “French Fries” que são, na verdade, Belgian Frites.
Mas calma.
Mais que batatas, elas carregam uma história que potencializa o seu sabor incomparável.
Presta atenção:
Até hoje as vizinhas França e Bélgica brigam pela paternidade da origem da mundialmente famosa French Fries.
A história mais contada explica que os criadores foram os belgas da região de Namur que no início do século XVII tiveram que usar da criatividade para se alimentar.
Durante o ano costumavam fritar pequenos peixes, mas que quando o inverno congelava os rios, os peixes eram substituídos por batatas cortadas em formato semelhante. E então do simples nasceu o extraordinário: French Fries!
Mas por que French se quem criou foram os belgas?
Pois bem. Dizem que pai é quem cria, certo? Nesse caso o pai foi quem batizou.
Foi apenas durante a Primeira Guerra Mundial que esse “prato” - e seu famoso nome - se popularizou mundialmente. Soldados americanos, estacionados em uma região da Bélgica, provaram as deliciosas batatas fritas e as chamaram de French Fries porque o idioma predominante da área era o francês.
Uma deliciosa confusão!
E independente do criador, o importante é a criatura e - nesse caso - uma criatura deliciosa: bem fritinha, ainda quente, com a quantidade de sal ideal e acompanhada por um (ou mais) molhos é perfeição para chef algum colocar defeito!

Ainda mais quando ela é a companhia para uma caminhada com calma pelas ruas do centro de Bruxelas.
Eu, com meu pacote de Frites na mão - segurando como se um troféu fosse - sigo caminhando e descobrindo a capital sem pressa e com muito prazer.
Bruxelas é uma cidade que não se decifra de imediato.
Ela nos convida a se perder em suas ruelas de paralelepípedos, a se encontrar nos corredores de seus museus, a sentir o cheiro de chocolate a cada esquina e a escutar os sussurros de suas construções centenárias, a sentir seu pulso na noite, pelos bares sorvendo sem pressa uma cerveja belga bem encorpada.
Estou parada no meio da Grande Praça central de Bruxelas - uma praça fabulosa cercada por edifícios históricos do século XIV. As fachadas, ricas em ornamentos e afrescos dourados, lembram uma verdadeira obra a céu aberto.
Ao meu redor uma cidade pulsa. Visitantes se misturam aos moradores em um vai e vem cotidiano. A cada esquina, vitrines de lojas de chocolate belga enchem os olhos - e a vontade de experimentar tudo.
Bruxelas é uma cidade com alma para viajantes de coração aberto.

O sol vagueia entre as nuvens como se estivesse se escondendo - ainda é frio nesse início de primavera no hemisfério norte, mas sinto o clima ideal para a caminhada. As mãos frias são aquecidas pelo pacote de papel, em formato de cone, de french fries, e o restante do corpo se esquenta pela euforia de estar explorando essa cidade tão nuclear.
Aqui flanei pelas ruas, experimentei o chocolate belga direto da fonte. Permiti meu coração bater mais forte com aroma quente dos wafles que devorei com tanto prazer. Me permiti experimentar cerveja trapista e de sobremesa fazer um tasting de cervejas no descolado - e lotado - bar da Delirium.

E quando me dei por conta estou voltando para o hotel com o passo rápido por que o frio apertou. As mãos seguem ocupadas com mais um pacote de French Fries Quentinhas e os bolsos carregados de pralines da Maison Pierre Marcolini que vou degustar calmamente embaixo das cobertas antes de dormir.
Não há dieta que resista a essa cidade.
O que me resta é fazer tudo de novo amanhã: percorrer todos os cantos da bela Bruxelas explorando e buscando queimar as calorias extras da batatinha.

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