Cartas de Viagem - Curaçao
- andggomes

- 8 de jun.
- 3 min de leitura
Estaciono minha Amstel Bright na mesa, dou uma mordida em um Bitterballen ainda quente, recém preparado, e sinto um sabor especial - uma mistura de carne desfiada muito bem temperada com um creme derretendo na boca - e observo ao redor. Estamos em um bar pequeno e reservado, no alto de um penhasco à beira do mar, na praia de Lagun, ao norte da ilha de Curaçao, no sul do Caribe.
Lá embaixo uma pequena extensão de areia da praia se deixa beijar carinhosamente pelas ondas calmas do mar tranquilo que incansavelmente vai e vem ritmado. Essa pequena baía é cercada pelos alto paredões de pedra - enfeitados com cactus e espinhos - que a protegem como um irmão mais velho faz com a princesinha da casa.
Do meu lugar na mesa eu consigo ver o fim do dia impresso no horizonte. O mar parece estar abraçado por um cobertor multicolor: um céu pintado por raios laranjas, avermelhados e um leve tom de roxo.
Uma família de iguanas se espalha majestosa no parapeito do penhasco de calcário desgastado - e enfeitado de espinhos - e nos observa com calma e olhares pedintes e não é à toa, já que muitas rodelas de laranja que enfeitavam os drinks da mesa agora descansam felizes em suas barrigas.
Vejo toda minha família na mesa. Curtindo o clima, provando comida local, curtindo o fim do dia, bebericando e conversando feliz…
Suspeito que exista algum encanto nessa ilha. Como demorei tanto para descobri-la?
O tempo passa sem passar. O colorido do fim do dia dá espaço aos primeiros sinais da noite e nós seguimos apreciando esse momento tão Dushi (termo do Papiamento - língua local de Curaçao - que significa doce, querido, bonito, gostoso, bom, agradável) em família.
Meus pensamentos e o burburinho baixo do restaurante são quebrados pela alta voz da minha mãe que brava:
O QUE É AQUILO NA ÁGUA?
Movida por curiosidade e excitamento, imediatamente levanto para entender o que intriga a matriarca da família. Direciono meu olhar para o mar e vejo uma sombra. Uma sombra que se movimenta livre e feliz pela enseada, como se fosse o único ser existente em toda aquela extensão de água.
O mar, já iluminado pelas luzes da noite, exibia uma transparência tão cristalina que, mesmo do alto do paredão, pudemos distinguir com clareza quem deslizava livremente pela baía da Praia Lagun: uma elegante arraia.
Olho pro lado e percebo toda a família animadamente debruçada no parapeito do paredão de pedra a observar a apresentação lá embaixo. A arraia seguiu valseando pelo mar por mais um tempo e sem dar explicação desapareceu.
Voltamos à mesa, e ainda encantados com a recente performance da bailarina do mar, embalamos na conversa ao sabor do clima ameno da brisa caribenha.
Estendo a mão para pegar mais um bitterballen e encontro o pote vazio. Sem hesitar, ergo o olhar para nosso amigo garçom Lucca, que prontamente entende a falta que nos assola e - em menos de cinco minutos - deposita diante de nós duas porções fumegantes e uma nova rodada de Brights.
Suspeito que acabamos de ganhar mais dois concorrentes de peso ao título de grande atração da noite. E então, me pego pensando: que outros encantos essa ilha vai nos apresentar?
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